Religioso nascido em Chicago atuou por décadas no Peru, onde foi bispo e conquistou a cidadania; eleito papa, homenageou comunidade peruana em seu primeiro discurso
O novo líder da Igreja Católica, eleito nesta semana pelo conclave de cardeais no Vaticano, é o norte-americano Robert Francis Prevost, que escolheu o nome de Leão XIV. Aos 69 anos, ele faz história ao se tornar o primeiro papa oriundo dos Estados Unidos — um país de maioria protestante — e, ao mesmo tempo, carrega consigo a cidadania peruana, conquistada após décadas de missão na América Latina.
Nascido em Chicago, Prevost entrou para a vida religiosa aos 22 anos, sendo ordenado padre em 1982. Três anos depois, iniciou sua trajetória missionária no Peru, onde atuou junto a comunidades carentes em regiões como Piura e Trujillo. Durante o período conturbado do governo Alberto Fujimori, chegou a se posicionar publicamente contra injustiças cometidas pelo regime.
Em 2014, assumiu como administrador apostólico da Diocese de Chiclayo, no norte do Peru, e foi ordenado bispo no ano seguinte. A cidade, situada a cerca de 700 km da capital Lima, se tornou um marco importante na vida de Leão XIV, que adquiriu a nacionalidade peruana no mesmo ano em que assumiu oficialmente o bispado local.
Ao se apresentar como papa na sacada da Basílica de São Pedro, o novo pontífice fez questão de lembrar o povo que o acolheu em sua missão na América do Sul:
— Se me permitem, uma saudação (…) à minha querida Diocese de Chiclayo, no Peru. De onde uma comunidade de fiéis me acompanhou, compartilhou comigo e me deu tanto para seguir sendo uma Igreja da fé em Jesus Cristo — declarou, emocionado.
De perfil discreto, voz serena e formação sólida em teologia e direito canônico, Leão XIV ocupava até então dois cargos de destaque no Vaticano: prefeito do Dicastério para os Bispos — responsável por nomear bispos ao redor do mundo — e presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina. Alinhado com a linha reformista de Francisco, é visto como um continuador do espírito de abertura e diálogo da Igreja.
Apesar da trajetória respeitada, Prevost enfrentou desafios. Em 2023, ainda como bispo em Chiclayo, foi acusado por três mulheres de ter acobertado casos de abuso sexual cometidos por dois padres durante sua gestão. O caso gerou repercussão, mas não impediu sua ascensão dentro da Cúria Romana.
Agora como Papa Leão XIV, o religioso terá diante de si o desafio de conduzir uma Igreja global em tempos de transformações profundas. Seu histórico de atuação no Peru e sua visão pastoral moldada na América Latina indicam que o novo papa poderá manter o foco nos mais vulneráveis, no espírito missionário e na renovação da fé católica.
Como foi o conclave
O conclave para a eleição do novo papa começou na quarta-feira (7), com a presença de 133 cardeais – sete deles são brasileiros. Na primeira rodada da votação, na quarta à tarde, deu fumaça preta.
O mesmo ocorreu após a segunda e a terceira rodadas, na manhã desta quinta. Para a tarde, havia a previsão de uma quarta rodada de votação perto de 12h30 (no horário de Brasília) — a fumaça branca saiu por volta das 13h07 (de Brasília).