Especialista explica passo a passo do acionamento pelo 192 e reforça que fornecer informações corretas salva vidas

Na correria e desespero de uma emergência, muitos camapuanenses ainda não sabem exatamente como funciona o atendimento do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Pensando nisso, a equipe do Navega MS apresenta a segunda reportagem da série “SAMU Camapuã Salvando Vidas”, com foco na didática do processo de atendimento, desde a ligação até a chegada da equipe ao local.
Quem nos ajuda a entender esse procedimento é Aline Cristine Ribeiro, técnica de enfermagem do SAMU, que está na linha de frente e em contato direto com a Central de Regulação.
“Assim que a pessoa liga para o 192, ela fala com uma central que fica em Campo Grande. Primeiro, um atendente coleta os dados e repassa ao médico regulador. Dependendo da gravidade, o médico já começa a orientar a pessoa com os primeiros socorros até a equipe de Camapuã ser liberada e chegar ao local”, explica Aline.
Esse processo é rigorosamente monitorado e protocolado. Por isso, é fundamental que o solicitante permaneça na linha e forneça todas as informações solicitadas, como tipo de ocorrência, localização precisa e estado da vítima. Isso não atrasa o atendimento, pelo contrário, ajuda a equipe a se preparar melhor e agir com mais eficácia.

Reclamar da demora pode ser injusto: a equipe só sai com autorização médica
De acordo com Aline, muitas críticas à suposta demora são fruto da falta de entendimento sobre o processo:
“A gente só pode sair da base com liberação da central. Somos monitorados em tempo real e tudo tem que ser registrado: horário de saída, chegada, protocolo, senha… Tem todo um trâmite”, detalha a técnica.
Ela também alerta que o serviço é exclusivo para casos graves e urgentes, como acidentes, paradas cardiorrespiratórias, AVC, infarto, agressões com arma branca ou de fogo, convulsões, entre outros.
“Tem pessoas que ligam porque torceram o pé ou querem ir ao hospital, como se o SAMU fosse um táxi. Já aconteceu da gente estar em um atendimento assim e, no meio do caminho, entrar uma PCR (parada cardiorrespiratória). Infelizmente, às vezes, a gente chega tarde por causa dessas chamadas indevidas”, lamenta Aline.

“Hoje eu entendo como tudo funciona e sou grata”
Uma moradora de Camapuã, que preferiu não se identificar, relembra um episódio marcante. Um familiar seu sofreu um grave acidente e, naquele momento, ela não compreendia por que o atendimento demorava. A vítima foi salva, encaminhada para o hospital e depois trasnferida para Campo Grande. Por conta da gravidade, infelizmente, não resistiu.
“A pessoa estava caída, inconsciente. Parecia que o SAMU não vinha nunca. Só depois, conversando com profissionais, entendi que havia todo um protocolo e que eles já estavam sendo orientados desde Campo Grande. Hoje, mesmo com a dor da perda, eu sou muito grata à equipe daqui pelo esforço e profissionalismo.”
Profissionais que dão o sangue para salvar vidas
Aline também faz um apelo para que a população valorize mais o trabalho da equipe:
“A gente dá o sangue, corre contra o tempo. Somos agredidos verbalmente, criticados, mas estamos ali para salvar. Um elogio é raro, mas a crítica vem com força. Às vezes, isso dói.”

E ela destaca a importância da integração com o hospital local:
“Somos um conjunto. O atendimento não termina na ambulância, a gente faz muita diferença dentro do hospital também.”
Diretor clínico do hospital reforça importância e apela à conscientização
O médico Fernando Ribeiro, diretor clínico do Hospital de Camapuã, também ressaltou o papel vital do SAMU na rede de atendimento da cidade.
“O SAMU é um serviço de excelência, um atendimento extra-hospitalar essencial. É bem coordenado, bem treinado e extremamente preparado para socorrer a população no momento certo”, afirmou.
Dr. Fernando reforçou a importância de a população saber identificar os sinais de uma emergência real:
“A pessoa que apresenta sinais de AVC, como perda de força de um lado do corpo, boca torta ou fala arrastada, ou aquela que sente uma dor repentina e forte no peito, pode estar sofrendo um infarto. Nesses casos, o SAMU está totalmente preparado para prestar atendimento imediato e transportar o paciente com segurança até o hospital”, explicou.

No entanto, ele também fez um alerta sobre o uso indevido do serviço:
“O problema não está nos profissionais do SAMU de Camapuã. Eles são excelentes. A dificuldade está lá atrás, na triagem feita por telefone. Muitas vezes liberam a ambulância para situações que não são urgência nem emergência, como casos de pessoas alcoolizadas ou sem sintomas graves. Isso vira um ‘Uber de emergência’ e pode colocar em risco quem realmente precisa de socorro imediato”, criticou.
Dr. Fernando concluiu com uma observação importante:
“Não sei exatamente como resolver isso. Talvez com mais conscientização da população, mas é um processo difícil. O importante é lembrar que enquanto a ambulância está em um atendimento desnecessário, alguém que está infartando pode estar esperando por socorro que não chega a tempo”, alertou.
Médico regulador é quem decide o envio da ambulância
Quem complementa a explicação é o responsável técnico de enfermagem do SAMU em Camapuã, Josiel Eduardo Abrate, que detalha o fluxo da chamada:
“Ao ligar no 192, o solicitante fala primeiro com o TARM – que é o atendente regulador. Ele pega todas as informações e encaminha para o médico regulador, que vai conversar com o solicitante, avaliar o quadro e liberar ou não a ambulância. É esse médico quem dá o aval para que a equipe saia”, explica Josiel.

Segundo ele, essa centralização ajuda a garantir que os recursos do SAMU sejam usados corretamente e com rapidez onde realmente há risco de morte.
Quando chamar o SAMU?
✔️ Acidentes com feridos
✔️ Dores no peito com suspeita de infarto
✔️ AVC com perda de fala ou movimento
✔️ Quedas com suspeita de fratura grave
✔️ Convulsões
✔️ Casos de violência (arma de fogo ou arma branca)
✔️ Parada respiratória ou cardíaca
A série especial “SAMU Camapuã Salvando Vidas” continua nos próximos dias, mostrando os bastidores, desafios e histórias reais da equipe que atua para garantir o socorro rápido e eficiente na cidade. O vídeo dessa reportagem já está disponível nas redes sociais no @navega_ms.