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Abadia x Camilo: a maior rivalidade escolar da história de Camapuã

Entre futsal, vôlei, festival da canção e torcidas apaixonadas, os anos 2000 marcaram o auge da disputa entre as duas maiores escolas do município

As duas delegações, uma do lado da outra.

Quem viveu em Camapuã nos anos 2000 certamente guarda na memória a intensidade da rivalidade entre duas potências escolares: a Escola Estadual Abadia Faustino Inácio e a Escola Estadual Camilo Bonfim. Mais do que simples disputas esportivas, os embates entre as escolas movimentavam a cidade, enchiam arquibancadas e incendiavam o espírito competitivo de centenas de estudantes.

O cenário mais emblemático dessa rivalidade era a Semana da Pátria, com competições marcadas por ginásios lotados, torcidas vibrantes e confrontos eletrizantes no futsal e no vôlei. No futsal, a Escola Abadia costumava levar a melhor, enquanto no vôlei, quem dominava era o Camilo Bonfim. Os duelos eram tão equilibrados que empates ou vitórias suadas se tornaram rotina — e combustível para ainda mais rivalidade.

Além do esporte, a competição se estendia para o Festival da Canção, onde o protagonismo não era só dos talentos musicais, mas também das torcidas. O grito de guerra, os uniformes personalizados, as faixas e até bandeirões gigantes, como o que foi confeccionado pela Escola Abadia sob o comando do então diretor Valdinho, se tornaram símbolos daquela época. A saudosa professora Zezé, muito querida pela comunidade escolar, também marcou presença nesse período de ouro da Abadia.

Equipe de volei da escola Camilo

As arquibancadas sempre foram palco à parte: as torcidas ficavam lado a lado, com gritos de apoio e provocações sempre respeitosas, mantendo vivo o espírito esportivo. As escolas mobilizavam equipes, ensaiavam, decoravam os pátios, e os alunos contavam os dias para a chegada de setembro.

Ambas as escolas ultrapassaram a marca dos mil alunos, e cada uma carregava com orgulho sua identidade. Se por um lado a Abadia era conhecida pela garra no futsal e por uma torcida barulhenta, o Camilo se destacava pela técnica no vôlei e pela criatividade nas apresentações artísticas. O município parava para acompanhar essa disputa, que mais unia do que separava, criando laços e memórias entre gerações.

Infelizmente, em 2019, a Escola Estadual Abadia Faustino Inácio encerrou suas atividades. A decisão fez parte de um processo de reordenamento da rede estadual de ensino promovido pela Secretaria de Estado de Educação (SED), que considerou fatores como a redução no número de alunos e a reorganização das etapas de ensino entre Estado e municípios .

Time de futsal da Escola Abadia

Professores também relembram a rivalidade das duas maiores escolas da época

“Era um momento mágico, a cidade respirava escola, cultura e esporte”, relembra André Luiz, ex-professor da Escola Abadia e atual diretor da Escola Camilo Bonfim: “Era uma época muito gostosa, de alegria e respeito”, relembra o diretor André Luiz sobre os jogos escolares entre Abadia e Camilo Bonfim

André Luiz, guarda com carinho as lembranças da época em que era professor na Escola Abadia Faustino Inácio. Para ele, os jogos escolares dos anos 2000 eram marcados por respeito, entusiasmo e uma disputa saudável entre os alunos.

“Havia uma competição gostosa. Os alunos eram respeitosos, e era um prazer sair da escola, ir ao ginásio e acompanhar os jogos. Hoje, infelizmente, isso se perdeu. A rivalidade virou briga”, afirma André.

Ele destaca que, sem redes sociais e celulares, o foco dos estudantes estava realmente no esporte.

“Naquela época, o esporte era prioridade. Hoje, o celular tomou esse lugar. Isso impacta diretamente o interesse pelos estudos e pela participação nas atividades escolares.”

André também relembra os tradicionais jogos entre professores, que movimentavam toda a comunidade escolar, envolvendo escolas municipais, estaduais e particulares.

Equipe de professores

“Até as escolas particulares tinham presença forte nos jogos. Era muito bacana ver esse envolvimento. Hoje isso praticamente acabou.”

Com o fechamento da Escola Abadia, ele lamenta que parte daquela história tenha ficado no passado: “As tradições da Abadia foram enterradas. Foi uma época muito nostálgica, que deixou saudades, onde o grito de guerra da Abadia ecoava no ginásio, era de arrepiar”, finaliza.

O professor Elias Oliveira, que comandou diversas equipes da Escola Abadia nos históricos Jogos Escolares de Camapuã, relembra com emoção uma era de ouro do esporte estudantil no município. Segundo ele, o evento, realizado durante a Semana da Pátria no fim dos anos 1990 e início dos anos 2000, marcou a vida de toda uma geração. “Foi uma história memorável na vida de todo estudante, atleta e cidadão camapuanense”, afirma Elias, destacando a força das disputas entre as escolas estaduais, municipais e particulares.

Para o professor, a rivalidade entre Abadia e Camilo Bonfim ia além das quadras, sendo vivida intensamente por alunos, torcidas e toda a comunidade. “A torcida vibrava o tempo todo, explodia emoção nos três turnos de jogos”, relembra. Ele também valoriza o trabalho coletivo dos professores e organizadores da época, que transformaram os campeonatos em um verdadeiro espetáculo esportivo. “Foi algo que entrou para a história de Camapuã e com certeza na vida de cada um que viveu aqueles momentos”, completa.

Até hoje ex-estudantes defendem suas escolas

A rivalidade entre a Escola Abadia e o Camilo Bonfim marcou uma geração em Camapuã, especialmente nas celebrações do 7 de setembro e nos festivais escolares. Ana Cleia, ex-aluna da Abadia e hoje agente de saúde, relembra com carinho os tempos de torcida organizada, confecção de pompons com sacos de estopa e longas horas no ginásio. “A gente torcia de corpo e alma. Mesmo sendo mal vista por acolher alunos da periferia, a Abadia mostrava sua força na bola, na música e na arquibancada”, conta.

Apesar da competição acirrada, Ana destaca que havia respeito entre as escolas e que tudo era vivido com alegria:

“Naquela época não tinha celular, bullying… a gente era feliz”, relembra. E conclui, com bom humor: “Sinceramente? A Abadia era melhor que o Camilo Bonfim”, diz, entre risos.

Equipe da escola Camilo

O atual professor Abel William conhece bem os dois lados da rivalidade entre as escolas estaduais Abadia e Camilo Bonfim. Ex-aluno das duas instituições, ele afirma ter vivido intensamente os Jogos Escolares — especialmente como atleta do Camilo Bonfim, onde estudou por mais tempo: “A gente vivia aquilo, a gente sentia na pele o que é ser jogador do Camilo Bonfim”, relembra, destacando a entrega dos alunos, que chegavam a treinar entre jogos no mesmo dia.

Apesar de reconhecer a força da escola Abadia — que venceu uma final marcante na categoria aberta —, Abel defende a hegemonia do Camilo Bonfim nas competições. “Desculpa, meus amigos da escola Abadia, mas Camilo Bonfim, você foi soberano”, afirmou, em tom de saudade e orgulho.

A educadora física Katiucia Mazuchim Araujo, ex-aluna da Escola Camilo Bonfim, também recorda os tempos de intensa disputa entre as instituições. Segundo ela, a rivalidade entre os alunos das escolas públicas era especialmente alimentada pelas competições esportivas e pelos festivais culturais.

“Acredito que era mais por conta dos esportes, porque quase sempre as finais e semifinais envolviam equipes da Abadia ou do Camilo”, contou. “A disputa era muito grande em tudo: no esporte, no ensino, nos festivais de canções. As torcidas competiam para ver quem tinha o grito de guerra mais forte. Era uma rivalidade enorme, mas sem violência. Era só aquela vontade de ser a melhor.”

Katiucia relembra que, mesmo fora dos jogos, os ânimos seguiam acirrados. “Teve vez que eu tava no circular e o pessoal da Abadia ficava provocando. Falavam que a gente se achava, que nos jogos iam mostrar quem mandava. Era uma rivalidade gostosa, que marcava a gente”, completo

Torcida da Abadia

Mesmo sendo atualmente professor da Escola Camilo Bonfim, Elionaldo Lopes guarda com orgulho e emoção suas memórias como aluno da Escola Abadie, onde viveu momentos inesquecíveis marcados pela tradicional rivalidade dos jogos escolares de Camapuã. Ele relembra com entusiasmo o período em que o Abadie se destacava nas quadras, especialmente no futsal e no vôlei, disputando de igual para igual — e muitas vezes superando — o Camilo Bonfim em competições escolares. Para ele, a rivalidade entre as duas escolas era intensa, mas saudável, capaz de lotar o ginásio e mobilizar a cidade em torno do esporte. Elionaldo defende com convicção o legado da sua escola do coração, destacando a hegemonia do Abadie nos anos em que participou como atleta e torcedor apaixonado.

“Na minha época, a escola Abadia predominava. Se você olhasse a sala de troféus, era um pouco maior que a do Camilo. E por mais que hoje eu esteja do outro lado, como professor do Camilo, a minha escola ainda é — e sempre será — a Abadia.”

Hoje, os tempos mudaram, as estruturas também, mas quem viveu essa rivalidade guarda até hoje o orgulho de ter feito parte de um capítulo importante da educação e da cultura camapuanense. Uma época em que a escola ia muito além da sala de aula — era um verdadeiro palco de emoção, competição e amizade.

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2 comentários em “Abadia x Camilo: a maior rivalidade escolar da história de Camapuã”

  1. ELIZARDO MOREIRA CONEGUNDES

    Boa tarde a todos, ótima matéria pena que não citaram o melhor professor da época- Olivan Rodovalho, que ganhou 03 vezes seguidas de melhor professor do ano. Ele viveu toda essa nostalgia da época das disputas entre essas duas escolas.

  2. Vdd Elizaldo pois os professores citados na maioria tiveram como mestre o prof. Olivan Rodovalho que por várias décadas atuou na Escola Camilo Bonfim e era apaixonado pelo que fazia

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