João Alves Melquiades, autodidata, além de criar e tocar sua própria harpa, ensina música para crianças na cidade de Figueirão por meio de um projeto.
João Alves Melquiades, um camapuanense de 63 anos, transformou sua paixão pela música em uma arte rara e autêntica. Morador de Figueirão, no norte de Mato Grosso do Sul, João é um exemplo de perseverança e criatividade. Ele passou cerca de dois meses e 15 dias para construir manualmente sua primeira harpa, usando parte de um tronco de árvore da espécie açoita-cavalo, encontrada no cerrado.
O resultado foi um instrumento singular, com um som impressionante. Mais do que isso, João não só criou a harpa, como aprendeu a tocá-la sozinho, e agora compartilha seu talento como músico autodidata, além de ensinar crianças no município. Veja o vídeo abaixo:
João, que já toca outros instrumentos de cordas, decidiu realizar um sonho: criar sua própria harpa. “Sempre fui apaixonado por música. Depois de sonhar em construir uma harpa, decidi colocar o plano em prática”, explica João. Com a ajuda de algumas dicas de um harpista profissional sobre as medidas do instrumento, ele seguiu em frente e, no dia 28 de agosto de 2020, sua harpa estava pronta.
Ele conta que o processo de construção exigiu muita dedicação e paciência. Além de saber quais materiais utilizar, ele teve que seguir uma série de passos técnicos: a madeira deveria ser retirada durante a lua minguante, fervida e depois deixada para secar na sombra. Foi um trabalho árduo, mas o resultado final mostrou a qualidade do som, que, segundo especialistas, é impressionante.

“Fiquei muito surpreso com a qualidade do instrumento e com a habilidade de João em construir a harpa e aprender a tocá-la sozinho”, comentou o médico Michael Mochi, que, junto com seu pai, especialista em harpas paraguaias, orientou João no processo de construção. Ele acrescentou que a habilidade de João para tocar o instrumento também é notável. “O João é extremamente inteligente. Meu pai passou algumas dicas sobre como fabricar a harpa e também sobre os primeiros acordes, mas ele aprendeu o resto sozinho, tanto a construção quanto a música”, relatou Michael.
O sucesso da construção da primeira harpa não foi um ponto final para João. Ele seguiu aprimorando suas habilidades e, atualmente, já construiu um segundo instrumento, mantendo viva a sua paixão por criar músicas e tocar. O segundo modelo foi ainda mais refinado, com melhorias no acabamento e no som. “Eu continuo aprendendo e aperfeiçoando o que faço. A música é uma paixão que nunca acaba, e eu faço questão de passar isso adiante”, conta João.
Além disso, a história de João se expandiu para o ensino. Ele começou a dar aulas de música para crianças de Figueirão, com um projeto social que incentiva a descoberta do talento musical. João ensina seus alunos a tocar instrumentos e compartilha a filosofia que o fez criar sua própria harpa. “Quando comecei, não tinha apoio nem recursos, mas a música me deu um propósito. Quero que as crianças vejam que, com dedicação, elas também podem realizar seus sonhos, mesmo que não tenham tudo o que é necessário à primeira vista”, afirma João.

Para a construção da harpa, João contou com o apoio do seu professor, também especialista em harpas paraguaias. Segundo ele, a escolha do tronco de açoita-cavalo foi essencial para garantir a qualidade do som. A madeira, além de ser resistente, possui as características ideais para a criação do instrumento. “Foi o meu professor quem me ensinou que essa madeira seria a mais adequada para a construção da harpa. Ele me passou apenas as medidas necessárias e algumas orientações, mas todo o processo de construção foi feito por mim”, explica.
As únicas peças que João não fez foram as cordas, que foram importadas do Paraguai, e as cravelhas, que são usadas para prender as cordas. Mesmo assim, o som do instrumento, quando finalmente ficou pronto, impressionou a todos ao seu redor. João lembra com carinho do momento em que tocou a primeira música em sua harpa. “Quando liguei para o professor e disse que a harpa estava pronta, ele não acreditou. O som ficou perfeito, e eu fiquei muito feliz com o resultado”, disse, com a mesma emoção de quem ainda sente a realização de um grande feito.

Hoje, João continua compartilhando sua arte com a comunidade e seus alunos. Sua história é uma prova de que a música tem o poder de transformar vidas, e que com paciência, criatividade e muita paixão, é possível realizar sonhos, mesmo quando se começa do zero. O camapuanense que construiu sua própria harpa com um tronco de árvore agora é também um mestre, transmitindo a seus alunos a magia da música e a ideia de que qualquer um pode criar algo extraordinário.
