Localizado a mais de 6 mil metros de altitude na Bolívia, o vulcão Uturuncu mostra sinais de atividade subterrânea e intriga geólogos do mundo todo com sua possível reativação

Adormecido há cerca de 250 mil anos, o imponente vulcão Uturuncu, localizado no sudoeste da Bolívia, próximo à fronteira com o Chile, voltou a chamar a atenção da comunidade científica internacional. Com 6.008 metros de altitude, ele se ergue silencioso dentro da Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa, em meio a lagunas coloridas, desertos e gêiseres — mas o que acontece abaixo da superfície é tudo, menos silêncio.
De acordo com um estudo internacional publicado na revista PNAS, o terreno ao redor do Uturuncu tem se elevado cerca de 1 centímetro por ano, indicando movimentações profundas de fluidos minerais e atividade magmática subterrânea. A deformação do solo em forma de “chapéu”, com o topo subindo e as laterais afundando, intrigou os pesquisadores, que o classificaram como um verdadeiro “gigante em movimento”.
Um laboratório natural da Terra
Cientistas da Universidade de Cornell analisaram mais de 1.700 pequenos sismos locais, como se tirassem uma “radiografia da Terra”. O que encontraram foi surpreendente: água superaquecida e gases estão interagindo com magma residual, formando rotas químicas por onde circulam minerais como cobre e outros metais valiosos.

“Esses fluidos atuam como verdadeiras autoestradas minerais, transportando elementos metálicos em profundidade”, explicou o geofísico Matthew Pritchard, coautor do estudo. Para ele, o Uturuncu funciona como um laboratório geológico vivo, mostrando em tempo real fenômenos que moldaram a crosta terrestre há milhões de anos — e que hoje são explorados em minas ao redor do planeta.
Vulcão zumbi?
Embora não haja risco iminente de erupção, os sinais vitais do Uturuncu servem de alerta: ele não está extinto, apenas adormecido. Por isso, alguns especialistas já se referem a ele como um “vulcão zumbi” — termo usado para formações que, embora inativas por milênios, ainda guardam energia geológica suficiente para reativação.
Outro ponto de atenção é sua relação com a chamada Altiplano-Puna Magma Body, uma gigantesca câmara de magma situada a dezenas de quilômetros de profundidade. Alguns pesquisadores acreditam que o Uturuncu pode ser parte de um sistema maior, talvez até um supervulcão em formação, o que aumenta ainda mais o interesse no seu monitoramento.

Entre a ciência e o futuro da mineração
Além das implicações geológicas, o estudo também oferece insights para o setor da mineração. Compreender como os metais se concentram em profundidade pode abrir caminho para uma exploração mineral mais eficiente e sustentável, não apenas na Bolívia, mas em todo o mundo.
Enquanto isso, o Uturuncu continua sua transformação lenta e silenciosa, servindo como uma janela única para os segredos do interior da Terra. Um lembrete poderoso de que, por mais que pareçam adormecidos, os vulcões nunca estão totalmente quietos.