Com média de 80 atendimentos por mês, equipe atua em emergências graves e demonstra coragem em momentos decisivos para garantir o socorro na cidade de Camapuã

Por Flávio Dias e Ana Silva – Navega MS
Em Camapuã, município de aproximadamente 13 .920 habitantes espalhados por uma área de 6.238 km², o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) representa a linha tênue entre a vida e a morte. Com uma densidade demográfica de apenas 2,18 habitantes por km², extensa rede de estradas vicinais e zonas rurais isoladas, responder de forma rápida e eficiente às emergências é um desafio constante.
Luciran de Oliveira, coordenador do Samu em Camapuã, compartilhou com exclusividade ao Navega MS a rotina da equipe — marcada pela urgência em cada chamada, técnica e coragem na ação.
“O Samu é muito mais do que uma ambulância com sirene. Somos o braço forte da saúde pública, que atua quando tudo parece perdido. É a esperança.”, afirmou. Para ele, o serviço vai muito além do protocolo: “Quando chegamos ao local, levamos não apenas conhecimento técnico, mas também esperança.”
A extensão territorial de Camapuã significa que algumas ocorrências exigem deslocamento por estradas de terra em más condições e locais de difícil acesso. Recentemente, um senhor foi vítima de um trágico acidente em uma área remota, esmagado por um trator. Apesar de o Samu ter sido acionado, o acesso lento e dificultado levou à conclusão inevitável: o homem já estava sem vida quando a equipe chegou.

“Esses casos mostram que precisamos de investimentos em infraestrutura para que possamos prestar atendimento com mais eficiência”, reforçou Luciran.
A própria dinâmica da cidade — em que praticamente todos se conhecem — adiciona uma carga emocional ao atendimento:
“Não é incomum socorrermos pessoas que conhecemos desde a infância. Isso aumenta a responsabilidade, pois estamos lidando com histórias que também movem a nossa”, contou o coordenador.
Entre os atendimentos mais marcantes dos últimos meses, dois casos se destacam pela gravidade e impacto na comunidade:
No final de abril, um ônibus com cerca de 40 trabalhadores despencou de uma ponte na região da Pontinha do Cocho, deixando quase 36 feridos. A atuação rápida do Samu local, em conjunto com ambulâncias da região, foi decisiva. “Foi um cenário de guerra. Muitos feridos graves, traumas múltiplos. Cada minuto contava. Nossa equipe agiu com precisão, e isso salvou vidas.”

Em julho, na BR‑060, na infame curva conhecida como “Curva da Morte”, o jovem Leonardo Galdino de Souza Oliveira, de 21 anos, capotou a caminhonete Amarok. O Samu conseguiu estabilizá-lo e chegou a transportá-lo com vida para o hospital de Camapuã, mas, infelizmente, ele não resistiu durante a transferência para Campo Grande. “Fizemos tudo que estava ao nosso alcance, mas nem sempre é possível evitar a tragédia. Esse caso reforça o apelo por melhorias na infraestrutura da via”, lamentou Luciran.

A este cenário soma-se o relato de mais um personagem que viveu o atendimento do Samu em primeira mão. Antônio Mariano, de 47 anos, trabalha como recepcionista em um hotel de Camapuã e sofreu um grave acidente de trabalho ao bater o joelho na quina da mesa de recepção. Ele foi prontamente socorrido pela equipe do Samu.
“Tive uma lesão muito grave no joelho, e fui atendido pelo condutor Ivan e pela técnica de enfermagem Aline, que agiram com muita dedicação, respeito e responsabilidade. Foram rápidos e me deram suporte quando mais precisei. Quero enaltecer essa equipe do Samu de Camapuã e da região inteira, que estão sempre de prontidão”, relatou Antônio. Após o primeiro atendimento, ele foi transferido para o município de Maracaju, onde passou por cirurgia.

Mesmo com estrutura simples — uma ambulância básica equipada com desfibrilador, oxigênio e medicamentos essenciais — o Samu de Camapuã mantém funcionamento 24 horas por dia, 7 dias por semana. A equipe, composta por condutores, técnicos em enfermagem e enfermeiros, conta ainda com regulação médica via Central Estadual. O trabalho de capacitação constante é considerado vital por Luciran: “Cada segundo conta, e o preparo técnico faz toda a diferença no socorro.”
Secretário de Saúde destaca avanços e desafios
O secretário de Saúde de Camapuã, André Targino, também falou à reportagem e destacou como era a realidade do município antes da implantação do SAMU, em 2013.
“Antes, a gente contava apenas com a nossa equipe de motoristas. Quando acontecia algum acidente, a gente usava os veículos da prefeitura, que nem sempre eram adequados para resgate. Era uma dificuldade muito grande, tanto pela falta de estrutura quanto pela falta de capacitação específica para emergências”, explicou.
Segundo ele, a chegada do SAMU trouxe avanços importantes.
“Com o SAMU, tudo melhorou muito. Hoje temos uma regulação coordenada pela Central de Campo Grande, e os pacientes acessam o serviço pelo 192. O atendimento é qualificado e feito no tempo certo. Isso salva vidas”, reforçou.

André também falou sobre a parceria entre os serviços de saúde da cidade:
“Camapuã tem um território muito grande e, além disso, o SAMU daqui atende regiões próximas como Paraíso das Águas e Figueirão. Por isso, temos uma parceria muito forte entre hospital, prefeitura e até o Governo do Estado, que colabora bastante com a saúde no município. Essa união é fundamental para garantir socorro mesmo nas áreas rurais”, disse.
Sobre os desafios atuais, o secretário confirmou que o aumento de ocorrências já levou à solicitação de uma nova equipe.
“Recebemos, sim, a solicitação para criação de uma equipe de sobreaviso. A equipe que está de plantão vai na primeira ocorrência, e, em caso de outro chamado simultâneo, essa segunda equipe é acionada. Isso é muito importante, ainda mais considerando o número de acidentes e a extensão do nosso território”, explicou.
Segundo ele, a solicitação está em fase de análise:
“Já estamos estudando a viabilidade, com análise técnica e financeira. A intenção é colocar essa equipe adicional em funcionamento o quanto antes”, finalizou.
O início do SAMU
Desde sua criação em 2003, o Samu, parte da política nacional do SUS, já salvou milhões de vidas em todo o Brasil. Na zona rural de Camapuã, onde hospitais de maior porte ficam longe, sua presença é peça-chave no sistema de emergência local que está ativo desde de 2013.

Luciran também destaca a importância do trabalho educativo da equipe: orientar a população sobre o uso correto do número 192, prevenindo trotes e garantindo atendimento eficaz a quem realmente precisa. “Uma ligação certa pode mesmo salvar vidas”, completou.
Esta é a estreia da série especial “Samu Camapuã: Salvando Vidas” no Navega MS. Ao longo das próximas reportagens, vamos mostrar com profundidade as histórias por trás das sirenes: relatos emocionantes, vidas impactadas e o cotidiano de quem, todos os dias, corre contra o tempo para manter a esperança viva.