Casinhas de acolhimento que antes reuniam mais de 20 gatos hoje abrigam apenas quatro; flagrante de felino silvestre reforça preocupação entre voluntários

O desaparecimento de cerca de 15 gatos em duas semanas em um ponto de acolhimento comunitário no centro de Camapuã acendeu o alerta entre moradores e voluntários. A suspeita é que os animais tenham sido vítimas de um possível ataque de uma onça parda de porte médio, vista por moradores na região. O flagrante aconteceu na noite da última segunda-feira (7), por volta das 19h, quando o felino silvestre foi avistado sobre a passarela que cruza o córrego Garimpinho — exatamente ao lado do ponto onde os gatos costumam se abrigar.
O local abriga pequenas casinhas comunitárias onde gatos abandonados recebem ração, água e proteção de forma espontânea, mantidas por moradores. Antes, cerca de 20 gatos frequentavam o espaço. Na manhã desta quinta-feira (9), a equipe do Navega MS esteve no local e encontrou apenas quatro animais.
A cena da onça foi testemunhada por Silvana Carvalho e seu esposo, Rodrigo Fontoura, enquanto trabalhavam com entregas de pizza pela cidade.
“Foi meu marido quem viu primeiro. Estávamos de moto, indo olhar os gatinhos, e o farol bateu nela. A onça ficou parada por um momento, encarou, e depois correu pro mato. Foi tudo muito rápido”, contou Silvana à equipe do Navega MS. “Era uma onça parda, de porte médio. Não conseguimos tirar foto, ela sumiu rápido demais.”
A passarela onde o animal foi avistado liga a região central de Camapuã à Vila Diamantina, por meio de uma trilha urbana próxima ao córrego e a uma área de vegetação mais fechada — o que pode facilitar o deslocamento de animais silvestres em busca de alimento.

Silvana, que há anos cuida dos gatos no local, relata que a redução dos animais tem sido visível nas últimas semanas.
“Antes tinha uns 20 gatos. Agora só restam quatro. Ontem mesmo tinham cinco. Cada dia some um”, lamenta.
Outro relato importante é o da professora Inês Cunha, que também é voluntária no cuidado com os gatos e afirma levar ração diariamente ao ponto de acolhimento. Segundo ela, a presença de uma onça na região não é novidade, e o IBAMA chegou a procurá-la pessoalmente para tratar do assunto.
“Há tempos atrás apareceu uma onça lá. Os gatos começaram a sumir e o IBAMA veio falar comigo. Vieram na minha casa e pediram que eu não andasse mais por lá à noite, por segurança. Isso começou no ano passado”, contou.
Inês reforça que o número de gatos caiu drasticamente. “A média era de 20 a 25 gatos. Hoje, tem no máximo quatro ou cinco. Eles colocam muitos gatos ali, mas somem rápido. Não é mais como antes.”
Ela explica que o espaço não é formalmente uma associação ou abrigo oficial, mas sim um ponto espontâneo criado por moradores. “Eu comecei a cuidar ali com outras voluntárias. Tem uma casinha simples onde colocamos ração, água. Os gatos se acostumaram a ficar por ali.”
Apesar do susto e das perdas, os voluntários seguem firmes no cuidado com os poucos gatos que restaram e pedem atenção das autoridades ambientais para investigar a presença do animal silvestre. Geralmente, esses gatos não são adotados, mas sim abandonados, e os filhotes, que antes eram numerosos no local, não foram mais encontrados — possivelmente por serem presas fáceis para a onça, já que não têm a agilidade dos gatos adultos. “Esses gatos não escolheram estar ali, nem a vida que levam. Cuidar deles é um ato simples, mas que faz toda a diferença”, diz Inês, professora e voluntária no local.