Ele é mais que locutor: é despertador, amigo invisível e ponte entre gerações. Na série especial “Vozes de Camapuã”, conheça o homem por trás da voz que há décadas embala os dias da cidade

Em uma época em que tudo parece correr mais rápido, há vozes que permanecem firmes, constantes, quase como um farol que guia o cotidiano de uma cidade inteira. Uma dessas vozes pertence a Jorge de Carvalho, que há quase 40 anos está no ar pelas rádios de Camapuã, sendo companhia fiel de trabalhadores, donas de casa e motoristas pelas madrugadas da cidade e da zona rural.
“Nasci aqui mesmo, em Camapuã, em 1964. Minha infância foi bem interiorana, jogando bola, pescando, sem televisão em casa. A gente cresceu ouvindo rádio.” A lembrança simples da infância modesta moldou não só sua visão de mundo, mas também acendeu o desejo de estar do outro lado do rádio. “Eu ouvia Zé Béttio, Zé Russo, Ely Corrêa… foi ali que nasceu o sonho.”
O sonho virou realidade em 1986, com a inauguração da primeira emissora local, a Rádio Princesa de Camapuã, criada pelo saudoso Nelson Seba. “Eu já era conhecido como garoto-propaganda da prefeitura, fazia anúncios de vacinação e jogos de futebol em carro de som. Não fiquei muito nervoso não, já me sentia em casa com o microfone.”
Hoje, décadas depois, a rotina de Jorge começa antes do sol nascer. “Acordo às 4h30. Preparo meu café e já me concentro para entrar no ar às 5h.” A essa hora, Camapuã já desperta com sua voz. Ele sabe que está presente na vida de centenas de pessoas. “Senhoras preparando o café, fazendeiros saindo pro pasto, caminhoneiros pegando estrada… já ligam o rádio esperando ouvir a gente.”
E não é exagero: há fazendeiros que ainda amarram o radinho no mangueiro para ouvir enquanto tiram leite. “Costumo dizer que o rádio vai onde a TV não chega. Hoje, com internet e caixinhas Bluetooth no campo, o rádio só ficou mais forte.”
Com sensibilidade e experiência, Jorge também lida com momentos difíceis. “É preciso preparo emocional. Já chorei no estúdio ao anunciar a morte de alguém querido. Mas a gente respira fundo e segue. O microfone exige equilíbrio.”
A conexão com os ouvintes é tão intensa que, certa vez, uma família ligou para a rádio diretamente do velório de uma senhora, ouvinte fiel do programa. “Eles pediram que eu fizesse uma homenagem. Foi emocionante. Me marcou muito.”
Ao longo da carreira, Jorge entrevistou lendas da música sertaneja. “Conversei com João Paulo e Daniel, Trio Parada Dura, Peão Carreiro e Zé Paulo, Tião Carreiro e Pardinho… Muitos já se foram. Mas eu estive com eles.” Também cobriu eleições em tempo real, sentindo o pulso da cidade nos bastidores da política.
Para ele, o papel do radialista vai muito além de comunicar. “Somos ponte entre o rádio e as massas. A gente informa, entretém, forma opinião, leva cultura. E somos acessíveis. O povo confia na nossa voz.”
E mesmo com o avanço da tecnologia, Jorge acredita que o rádio nunca deixará de ser essencial. “Antes era só rádio de pilha. Hoje, com celular e streaming, o alcance é ainda maior. Mas o coração do rádio continua o mesmo.”
Emocionado, ele deixa um recado para quem o ouve todos os dias:
“As donas de casa não levam a TV pro tanque, pro terreiro, pro quintal. Mas o rádio está ali. O caminhoneiro tá na estrada ouvindo o modão. O peão tá no pasto, montado no cavalo, e me manda mensagem no zap dizendo que tá ouvindo a rádio. Isso é mágico. Isso é rádio.”
Na série especial “Vozes de Camapuã”, Jorge de Carvalho é mais que um personagem: é símbolo da força da comunicação interiorana, é a trilha sonora das manhãs camapuanenses, a voz que ecoa onde nem a tecnologia chega. Um mestre do microfone — e da emoção.
Muito obrigado pela linda matéria e reconhecimento!!! Emocionante!
Grande Jorge Carvalho!! Artista da velha guarda de CAMAPUA! . Radialista a
Ha anos. A verdadeira música sertaneja toca todos as manhãs no seu programa! Sucesso sempre 🙏